Por muitos anos, mulheres de diferentes idades enfrentam cólicas menstruais muito intensas, dores na hora da relação sexual e outros sintomas que parecem ser apenas físicos, genéticos ou hormonais. Porém, em muitos casos, na verdade, se trata de uma condição ginecológica chamada endometriose.

Segundo a Sociedade Brasileira de Endometriose, 1 em cada 10 mulheres é acometida com essa condição no Brasil, sendo também muito frequente ao redor do mundo. No entanto, estudos mostram que ainda existe uma demora grande entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença.

 

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O que é a endometriose?

De acordo com o Ministério da Saúde, a endometriose é uma alteração no funcionamento normal do organismo que faz com que o endométrio – células de tecido do interior do útero – acabe se apresentando em locais fora do órgão.

Normalmente, essas células se renovam todo mês pela menstruação. Porém, com a doença, em vez de serem expulsas do organismo, se movimentam no sentido oposto, em direção a outros órgãos ou cavidade abdominal. Assim, voltam a se multiplicar e sangrar.

As áreas mais atingidas costumam ser os ovários; as regiões frontais, do fundo ou os ligamentos do útero; trompas; o tecido entre a vagina e o reto; a superfície do reto, a bexiga e/ou a parede da pelve.

 

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Tipos de endometriose

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Endometriose, a doença pode se apresentar de diferentes formas, de acordo com o local acometido.
 

Peritoneal

Forma mais frequente da doença, na qual o endométrio atinge o peritônio – uma membrana que reveste a pelve, os órgãos pélvicos e abdominais. Ela pode se apresentar de forma superficial ou profunda, também chamada de infiltrativa.

Entre 20 e 30% das mulheres com essa endometriose apresentam a forma profunda, em que as células invadem a superfície peritoneal por mais de 5mm e são encontradas também na parte final do intestino grosso e na parede da bexiga.

 

Endometrioma de ovário

São os casos em que o endométrio retorna pelas tubas e se aloja em um pequeno cisto no ovário. Dessa forma, a cada ciclo menstrual, essas células vão preenchendo o cisto de sangue. Com crescimento lento, esse cisto pode chegar a grandes proporções e o maior problema é que parte do ovário sadio vai sendo destruída junto, podendo comprometer a fertilidade da mulher.

 

Endometriose profunda

A forma mais avançada da doença chega a acometer os ligamentos ou outros órgãos, como o intestino. Seu tratamento pode ser mais agressivo devido à falta de respostas aos medicamentos.

 

Endometriose de parede

Um tipo da condição que aparece após uma cirurgia uterina comum, como a cesárea, a histerectomia ou a miomectomia. Isso porque, durante a cirurgia, as células do endométrio se alojam na cicatriz cirúrgica. Com isso, crescem e formam um nódulo dolorido.

Além dessas quatro formas da doença citadas acima, ainda existem outras duas, a Septo reto-vaginal e a Endometriose Pulmonar ou Pleural, mas ambas são extremamente raras.

 

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Causas da endometriose

As causas dessa doença ainda são desconhecidas. No entanto, segundo os especialistas da Mayo Clinic, existem algumas possíveis explicações para o quadro sendo estudadas:
 

Menstruação retrógrada

Em que o sangue menstrual, junto com células endometriais, volta pelas trompas e cavidade pélvica, em vez de ser eliminado pelo organismo. Dessa forma, as células aderem às paredes e superfícies, crescendo, engrossando e, consequentemente, sangrando a cada ciclo menstrual.

 

Transformação de células peritoneais

Chamada de "teoria da indução", em que os especialistas acreditam que os hormônios ou fatores imunológicos transformam as células que revestem o lado interno do abdômen em outras semelhantes ao endométrio.

 

Transformação de células embrionárias

Hormônios como o estrogênio transformariam células embrionárias em implantes de células semelhantes ao endométrio durante o período da puberdade.

 

Implante de cicatriz cirúrgica

As células endometriais podem se alojar na incisão cirúrgica após uma cirurgia comum como a histerectomia ou a cesariana.

 

Transporte de células endometriais

Os vasos sanguíneos ou o sistema linfático podem transportar células endometriais para outras regiões do organismo.

 

Distúrbio do sistema imunológico

Em que o corpo se torna incapaz de reconhecer e destruir o tecido do endométrio que está crescendo fora do útero.

 

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Sintomas da endometriose

De acordo com os especialistas da Johns Hopkins Medicine, os sintomas mais frequentes da endometriose são:

- Cólicas menstruais excessivas e/ou dores na região abdominal ou na parte inferior das costas

- Fluxo menstrual anormal ou intenso

- Dores durante a relação sexual

- Infertilidade

- Dores ao urinar durante os períodos menstruais

- Movimentos intestinais dolorosos também durante os períodos menstruais

- Outros problemas gastrointestinais, como diarreia, constipação e/ou náusea
 

É importante entender que cada mulher pode apresentar sintomas de maneira diferente. Bem como algumas também não apresentam nenhum deles. Assim, as dores e outros sinais, como a frequência ou a intensidade, não estão relacionadas diretamente com a gravidade do problema.

 

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Complicações da endometriose

Os órgãos do Governo voltados para a atenção à saúde da mulher reforçam a importância de procurar ajudam médica para o diagnóstico e tratamento, principalmente devido às consequências da endometriose.

Primeiro, as dores intensas durante o fluxo menstrual ou nas relações sexuais podem causar grandes impactos na vida da mulher, seja física, mental ou emocionalmente.

Além disso, existe a possibilidade da mulher se apresentar infértil, pois o tecido do endométrio invade as trompas, impedindo a condução do óvulo fecundando ao útero. Inclusive, a doença é a razão de muitos casos de gravidez ectópica, em que o óvulo acaba se prendendo nas paredes das trompas.

 

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Tratamentos da endometriose

O diagnóstico da doença é realizando durante a consulta clínica com um ginecologista, algumas vezes também com base em exames solicitados para análise, como a ultrassonografia de mapeamento.

O tratamento específico para a endometriose será determinado com base no seu quadro, extensão da doença e sintomas, sendo o mais frequente a terapia hormonal com medicações. Dessa forma, interrompe-se a menstruação da mulher durante alguns meses para avaliar se as dores persistem mesmo sem o sangramento menstrual.

Caso isso aconteça e a paciente ainda apresente dores também nos momentos de evacuação e relação sexual, o especialista pode indicar um tratamento cirúrgico.

Vale ressaltar que, mesmo com uma intervenção cirúrgica, a endometriose ainda pode retornar. Por isso, é essencial um acompanhamento médico regular por toda a vida fértil da mulher. Além disso, cuidar da alimentação de forma saudável e praticar exercícios físicos pode colaborar com o seu bem-estar.

Para saber mais sobre o tema, acesse o vídeo no canal da Care Plus, no qual especialistas da área explicam mais sobre sintomas e tratamento da endometriose.