Por Ricardo Salem
Diretor da Área Médica da Care Plus - CRM SP 99.527

Para uma pessoa comum, que tenha interesse em avanços tecnológicos, e também preocupação em manter-se saudável, pensar em empregar tecnologia em prol do bem-estar talvez ainda seja algo limitado ao uso de wearebles, por exemplo.

É claro que os gadgets (dispositivos tecnológicos), como smartwatches e earphones, capazes de captar nossos sinais vitais, compilar nossa evolução e traçar metas de acordo com nossos progressos pessoais são bastante entusiasmantes. Mas, para além das chamadas "tecnologias vestíveis" e "internet das coisas", existem avanços que estão impactando na saúde de um modo diferente. A esse conjunto de tecnologias damos o nome de Telemedicina.

Embora tratado com ares de tendência, o recurso vem sendo usado desde meados dos anos 1990, e pode ser dividido em diferentes frentes. A primeira delas trata da medicina a distância. Nessa situação, hospitais e médicos que atuam em locais de difícil acesso e sem grandes recursos, em que as condições de atendimento costumam ser primárias, passam a contar com o apoio de especialistas de instituições de referência para consultas e troca de informações.

Recentemente, uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo relatou como as teleconsultorias funcionam na prática. Logo na abertura do texto, o leitor conhece a história de uma médica que precisou da ajuda de uma colega especialista, que estava a 672 quilômentos de distância, para decidir se deveria prescrever um medicamento ao seu paciente ou não. Para auxiliar na decisão, a médica consultada analisou as imagens enviadas por computador e entrevistou a profissional responsável pelo tratamento sobre o paciente. Diante das respostas e avaliação dos exames, deu sua posição.

Há situações também em que o beneficiário pode estar diretamente na ponta, como no caso das consultas on-line. A Care Plus, por exemplo, já oferece essa possibilidade para quem tem necessidade de atendimento na área de saúde com um psicólogo ou um nutricionista, além de viabilizar os serviços médicos de telemedicina do Hospital Albert Einstein.

Outra vertente da Telemedicina tem sido chamada de tele-educação. Por meio de sistemas de informação, investe-se na formação e atualização clínica de profissionais de saúde. Se bem aplicada, a tele-educação pode servir também para outra função: a de engajar o paciente e ajudá-lo a cuidar melhor da sua própria saúde por meio da adoção de hábitos saudáveis. Vídeos com dicas de saúde, por exemplo, são empregados com esse objetivo por muitos profissionais.

Já a tele monitoração (ou telemetria diagnóstica) tem características mais peculiares. E a tendência é que alguns sistemas possam evoluir e funcionar como os já conhecidos wearables. Isso porque espera-se que o uso da Inteligência Artificial e do Machine Learning possa ampliar o funcionamento dos sistemas e aplicativos que monitoram sinais vitais e acionam alarmes em casos de emergências com pacientes.

É claro que, apesar dos avanços, ainda existem dificuldades em todo o processo de implantação e expansão da Telemedicina. Debates sobre a necessidade de reformulação da Resolução CFM nº 1.643/2002, que trata da prestação de serviços da Telemedicina; questões éticas como segurança da informação sobre pacientes e também legais, que se ocupam das responsabilidades de diferentes frentes atuantes, que vão desde administradores e médicos até pacientes, são apenas alguns dos pontos.

Ainda assim, pensar nos impactos que essa revolução pode causar na saúde é essencial. Só para se ter uma ideia, um estudo feito pelo núcleo de Telemedicina de Minas Gerais (um dos principais do país) indica que a teleconsulta é capaz de evitar, em aproximadamente, 80% a necessidade de encaminhamento de pacientes, já que os casos passam a ser resolvidos nas próprias unidades de saúde.

Isso indica um avanço não apenas ao sistema público de saúde - dinheiro que sai do meu bolso e do seu também - mas a possibilidade de redirecionar, no caso das operadoras, essa verba para setores que poderão investir em novos avanços. E, diante da dificuldade cada vez mais evidente de garantir sustentabilidade ao sistema de saúde, apostar plenamente na Telemedicina seria uma maneira não apenas de avançar tecnologicamente, mas de garantir cuidado humanizado a um número cada vez maior de pessoas.